Carnaval de Antonina - 35 anos de cumplicidade


Este blog foi criado para dar acompanhamento, apoio e divulgação das ações que serão desenvolvidos no cumprimento do cronograma estabelecido para a produção do livro de fotografias "Carnaval de Antonina - 35 anos de cumplicidade" de minha autoria. O projeto consiste na publicação de 200 fotografias, captadas no período de 1975 a 2010, e contará com o olhar literário do escritor Cristovão Tezza e do crítico de arte Sérgio Kirdziej. O projeto gráfico está sob responsabilidade do artista plástico e designer Luiz Antonio Guinski - Quadrante Editorial.Então...mãos a obra!



quinta-feira, 31 de março de 2011

TEXTOS ELABORADOS

Recebi os textos elaborados pelo escritor Cristovão Tezza e pelo crítico de arte Sérgio Kirdziej, que serão publicados no livro. Selecionei apenas um parágrafo de cada autor para postagem no blog:



“Mas é em Antonina que o carnaval atinge o apogeu no litoral paranaense. 
Curitibano da cepa como sou, e acostumado ao carnaval cartorial e postiço da minha cidade, fiquei pasmo quando em alguma ocasião dos anos 70 tive contato com o carnaval de Antonina. Para ali fui levado pelo meu companheiro da Escola de Belas Artes, o antoninense Eduardo Nascimento, o “Edu Bó” como é mais conhecido por aquelas plagas, apelido familiar que lhe veio através de seu tio-avô Bráulio, Nhô Bó de saudosa memória. Aliás esta é uma das peculiaridades de Antonina, os apelidos de família. Existem por ali os Bós, os Garças, os Sabiás, os Arapongas, etc. Pois bem, descobri que por ali ninguém precisava se preparar para o carnaval: estavam todos sempre prontos, e o evento ocorria com uma naturalidade cósmica, como se fosse mais uma estação entre as outras quatro do ano. Curitibano acostumado a ouvir as marchinhas e os sambas carnavalescos já virem prontos do Rio, surpreendí-me ao ver os antoninenses criando e cantando suas próprias músicas. Poetas como Relem Salumberg, Alceu Cachorrinho, Tube, Nego Paulista, versejavam, ritmavam e melodizavam suas composições que iam diretamente para o cantar do povo. As fantasias dos foliões eram criativas, refletindo ora o sentimento telúrico da região em improvisações como o Homem-Mato, o Homem-Macaco, o Bloco dos Apinagés, ora o humor bem bairrista como o Homem Poltrona ou o estraordinário “Strakófoxicopoulos” do Afonso, ou o Bloco do Pinico do seu Nenêm Chaminé. Fantasias de uma força carnavalesca inexplicável, somente para quem esteve lá, viu e sentiu! Enfim, ainda uma festa com sabor muito local e não avassalada por influências cariocas ou baianas”.
 Sérgio Kirdziej Membro da ABCA

“Esse mesmo olhar especial de quem sempre respirou Antonina nos apresenta agora o carnaval da cidade, que Eduardo acompanhou desde 1975, em registros que, à época, aconteciam sem pretensão maior. No início, eram quase que apenas exercícios de fidelidade à cidade, de educação fotográfica e experimentos tecnológicos: algumas fotos foram tiradas com a então inovadora “Mavica”, a primeira máquina fotográfica digital que apareceu entre nós. Mais de 30 anos depois, ao rever seu baú de fotos e negativos, Eduardo percebeu o pequeno tesouro que tinha em mãos: o registro histórico, praticamente ano a ano, de uma festa sempre condenada ao esquecimento assim que chegava a quarta-feira de cinzas. Este é o primeiro valor do álbum, a importância documental de um tempo e de um espaço condenados à perda; essas fotografias resgatam imagens e sentidos que de outra forma cairiam no quase sempre inexorável anonimato da vida popular.
Mas não é só isso. Na verdade, o aspecto documental ou jornalístico foi apenas o ponto de partida. A partir dele, redescobrimos o carnaval antoninense pelo olhar do fotógrafo. E a leitura que Eduardo faz dos carnavais da cidade é duplamente fiel – ao artista que, pelo recorte da fotografia, tira a máscara da aparência imediata para nos revelar também um modo de ver a festa popular, o detalhe fugaz que compartilhamos com o leitor pela indução do nosso olhar; e também fiel ao próprio carnaval de Antonina, que desponta nas fotos com sua desconcertante simplicidade, transgressão, carência e uma ingênua poesia, como puras expressões do desejo, à solta na rua. No conjunto, revela-se um Brasil secreto e frágil que se expõe indefeso, pelo prazer da festa”.
 Cristovão Tezza   Escritor

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